Crônicas Curtas para a Sala de Aula

Preparamos uma publicação trazendo excelentes Crônicas Curtas para ler em sala de aula. Essas crônicas são textos breves, porém repletos de simbolismo e reflexão, capazes de capturar a atenção dos alunos e estimulá-los a aprimorar suas habilidades de leitura, escrita e interpretação. Por meio da leitura de crônicas, os estudantes podem desenvolver sua capacidade de empatia, assim como sua capacidade crítica.

 

O pavão

            Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros; e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão.

            Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.  

            Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Rubem Braga

Furto de flor

            Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.

            Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer.

            Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
            – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade

 

Mundo preto e branco

            Era um mundo preto e branco. Todo o planeta consistia apenas em branco, preto, cinza e suas respectivas tonalidades.

            As pessoas caminhavam sob um céu ônix durante o dia e sob um manto carvão a noite. A humanidade consistia em 5 raças: branco, preto, cinza, granizo e chumbo.

            Mas, em uma estranha manhã, o céu amanheceu azul. As flores carvão tornaram-se vermelhas, amarelas, verdes cintilantes. Em todo o planeta, mares cinzas ganharam tonalidades de verde e azul. E as planícies desbotadas reverberavam cores múltiplas.

            Naquele dia, as pessoas entraram em pânico. Anunciaram o fim do mundo. Prantearam, fizeram cortes em si mesmas, imploraram misericórdia.

            No entanto, sem qualquer explicação, o fenômeno durou apenas um dia. Na manhã seguinte, quando o céu voltou a ser cinza ônix, as pessoas agradeceram por terem sobrevivido àquele dia apocalíptico.

Juliano Martins

 

Um sonho

Foi um sonho tão forte que acreditei nele por minutos como uma realidade. Sonhei que aquele dia era Ano-Novo. E quando abri os olhos cheguei a dizer: Feliz Ano-Novo!

            Não entendo de sonhos. Mas este me parece um profundo desejo de mudança de vida. Não precisa ser feliz sequer. Basta ano novo. E é tão difícil mudar. Às vezes escorre sangue.

Clarice Lispector

Tempo ao contrário

            O amor tem este poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário. O que envelhece não é o tempo. É a rotina, o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher ou de um homem. Mas será incapacidade mesmo? Ou não será uma outra coisa: que a sociedade inteira ensina aos seus velhos que velho que ama é velho sem-vergonha, que o tempo do amor já passou, que agora é tempo de esperar a morte, que o preço de serem amados por seus filhos e netos é a renúncia aos seus sonhos de amor?

Rubem Alves

A dúvida

            Enquanto o avião perdia altitude, o cenário era de pânico absoluto. Ele ouvia gritos e preces ao seu redor. Alguns tentavam ligar o celular desesperadamente, provavelmente uma tentativa de enviar uma última mensagem para familiares e amigos. Eu te amo, adeus, eu não deveria ter dito aquilo. Todas aquelas frases que passam pela cabeça quando se sabe que serão as últimas.

            Da mesma forma, ele estava angustiado. A mesma angústia que o acompanhara desde o momento em que pegara o metrô, 3 horas atrás, rumo ao aeroporto.

Antes que o avião se partisse em milhares de pedaços, sua angústia se resumia em uma única e persistente pergunta:

            — Será que eu desliguei o ferro de passar?

Juliano Martins

Outro de Elevador

     “Ascende” dizia o ascensorista. Depois: “Eleva-se”. “Para cima”. “Para o alto”. “Escalando”. Quando perguntavam “Sobe ou desce?” Respondia “A primeira alternativa”. Depois dizia “Descende”, “Ruma para baixo”, “Cai controladamente”, “A segunda alternativa”… “Gosto de improvisar”, justificava-se. Mas como toda arte tende para o excesso, chegou ao preciosismo. Quando perguntavam “Sobe?” Respondia “É o que veremos…” ou então “Como a Virgem Maria”. Desce? “Dei” Nem todo o mundo compreendia, mas alguns o instigavam. Quando comentavam que devia ser uma chatice trabalhar em elevador ele não respondia “tem seus altos e baixos”, como esperavam, respondia, criticamente, que era melhor do que trabalhar em escada, ou que não se importava embora o seu sonho fosse, um dia, comandar alguma coisa que andasse para os lados… E quando ele perdeu o emprego porque substituíram o elevador antigo do prédio por um moderno, automático, daqueles que têm música ambiental, disse: “Era só me pedirem ― eu também canto!”

Luís Fernando Veríssimo

A Lógica de Einstein!

Conta certa lenda, que estavam duas crianças patinando num lago congelado.

            Era uma tarde nublada e fria, e as crianças brincavam despreocupadas. De repente, o gelo quebrou e uma delas caiu, ficando presa na fenda que se formou.
            A outra, vendo seu amiguinho preso, e se congelando, tirou um dos patins e começou a golpear o gelo com todas as suas forças, conseguindo por fim, quebrá-lo e libertar o amigo.
            Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:
            – Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha conseguido quebrar o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
     Nesse instante, um ancião que passava pelo local, comentou:
     – Eu sei como ele conseguiu.
     Todos perguntaram:
     – Pode nos dizer como?
     – É simples: – respondeu o velho.
     – Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não seria capaz.

Albert Einstein

 

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

Mario Quintana

 

O jeitinho feminino

            Sete homens e uma mulher que faziam parte de uma equipe de alpinismo ficaram pendurados numa corda que, tava na cara, não iria sustentar tantas pessoas por muito tempo. 

            Os homens que estavam logo abaixo da mulher não queriam soltar da corda de jeito nenhum. Depois de muita conversa um deles, num sinal de extremo amor e generosidade, resolveu abrir mão da própria vida. Ele disse que soltaria da corda para que os demais pudessem sobreviver.

            A mulher percebendo que a situação estava se complicando resolveu intervir:

            – Não! Eu vou soltar da corda! Disse a mulher. Eu já estou acostumada. Eu como mulher já larguei do meu emprego pra ficar com os meus filhos… Eu já larguei os estudos para cuidar da minha mãe doente…

            Eu larguei aquilo para… Antes mesmo dela terminar de falar os homens, extremamente comovidos e emocionados começaram a aplaudir a moça.

Edilson Rodrigues Silva

 

Levanta o braço

Ela teve um dia muito agitado lá na firma. Muitos contatos, vendas, contratos, cobranças…. Enfim. Ela havia pulado mais que pipoca em óleo quente.
Quando ela chegou em casa ela foi dar banho nos garotinhos dela. Num determinado momento ela falou para um dos meninos que, como qualquer criança da idade dele, só queria brincar em baixo do chuveiro:
– Lucas! Para quieto! Eu quero dar banho em você. Vai meu filho, ajuda a mamãe! Eu ainda tenho que fazer a janta. Levanta o braço pra eu lavar o escritório.
O garotinho parou de brincar, olhou para a mãe e perguntou:
– Lavar o quê mãe?

Edilson Rodrigues Silva

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Respostas de 7

  1. Adoro crônicas curtas! São excelentes para trabalhar em sala de aula.

    Por favor, continuem publicando.

    Muito obrigada!

    Elaine

  2. Muito bom e apropriado para o momento. Gostaria de receber exemplares em meu E-mail, se for possível. Muito obrigado.

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