10 cordéis nordestinos para trabalhar em sala de aula

Estes 10 cordéis nordestinos são uma manifestação cultural riquíssima que tem origem no Nordeste do Brasil. Com rimas e métricas bem definidas, esses poemas populares contam histórias do cotidiano e da cultura da região, sendo uma excelente oportunidade de trabalhar a literatura de forma lúdica e acessível em sala de aula. Venha conhecer, não perca tempo!

10 cordéis nordestinos

1. O poeta da roça – Patativa do Assaré

Retrato de Patativa do Assaré em xilogravura
Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola
Cantando, pachola, à percura de amô

Não tenho sabença, pois nunca estudei
Apenas eu seio o meu nome assiná
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre
E o fio do pobre não pode estudá

Meu verso rastero, singelo e sem graça
Não entra na praça, no rico salão
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade
Canto uma sodade que mora em meu peito

2. Ser nordestino – Bráulio Bessa

Sou o gibão do vaqueiro, sou cuscuz sou rapadura
Sou vida difícil e dura
Sou nordeste brasileiro
Sou cantador violeiro, sou alegria ao chover
Sou doutor sem saber ler, sou rico sem ser granfino
Quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser
Da minha cabeça chata, do meu sotaque arrastado
Do nosso solo rachado, dessa gente maltratada
Quase sempre injustiçada, acostumada a sofrer
Mais mesmo nesse padecer eu sou feliz desde menino
Quanto mais sou nordestino, mais orgulho tenho de ser

Terra de cultura viva, Chico Anísio, Gonzagão de Renato Aragão
Ariano e Patativa. Gente boa, criativa
Isso só me dá prazer e hoje mais uma vez eu quero dizer
Muito obrigado ao destino, quanto mais sou nordestino
Mais tenho orgulho de ser.

3. A seca do Ceará – Leandro Gomes de Barros

Seca as terras as folhas caem,
Morre o gado sai o povo,
O vento varre a campina,
Rebenta a seca de novo;
Cinco, seis mil emigrantes
Flagelados retirantes
Vagam mendigando o pão,
Acabam-se os animais
Ficando limpo os currais
Onde houve a criação.

Não se vê uma folha verde
Em todo aquele sertão
Não há um ente d’aqueles
Que mostre satisfação
Os touros que nas fazendas
Entravam em lutas tremendas,
Hoje nem vão mais o campo
É um sítio de amarguras
Nem mais nas noites escuras
Lampeja um só pirilampo.

4. História da machina que faz o mundo rodar – Antônio Ferreira da Cruz

Cego, aleijado e moleque,
Padre doutor e soldado,
Inspetor, Juiz de Direito,
Comandante e delegado,
Tudo, tudo joga o dinheiro
Esperando bom resultado.

Matuto, senhor de engenho,
praciano e mandioqueiro,
Do agreste ao sertão
Todos jogam seu dinheiro
Se um diz que é mentiroso
Outro diz que é verdadeiro.

 

5. O romance do pavão misterioso – José Camelo de Melo Resende

Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.

Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.

O velho turco era dono
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos (…)

6. Ai se sesse – Zé da Luz

Se um dia nós se gostasse
Se um dia nós se queresse
Se nos dois se empareasse
Se juntin nós dois vivesse
Se juntin nós dois morasse
Se juntin nós dois durmisse
Se juntin nós dois morresse
Se pro céu nos assubisse

Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse pra que eu me aresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Talvez que nos dois ficasse
Talvez que nos dois caísse
E o céu furado arriasse e as virgem todas fugisse.

7. O mal e o sofrimento – Leandro Gomes de Barros

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

8. Proezas de João Grilo – João Martins de Athayde 

João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura,
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
E nasceu de sete meses,
chorou no bucho da mãe;
quando ela pegou um gato
ele gritou: “não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe”.

Na noite que João nasceu
houve um eclipse da lua

e detonou um vulcão
que ainda continua,
naquela noite correu
um lobisomem na rua.

Porém João Grillo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
a boca grande e beiçudo.
No sítio onde morava,
dava notícia de tudo.

O rio estava de nado,
vinha um vaqueiro de fora,
perguntou: “dará passagem?”
João Grilo disse: “inda agora,
o gadinho de meu pai
passou com o lombo de fora”.

O vaqueiro botou o cavalo
com uma braça deu nado,
foi sair já muito em baixo,
quase que morre afogado!
Voltou e disse ao menino:
“você é um desgraçado!”

João Grilo foi ver o gado
para provar aquele ato,
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato:
os patos passaram n’água.
João provou que era exato.

9. A greve dos bichos – Severino Milanês da Silva

Muito antes do Dilúvio
era o mundo diferente,
os bichos todos falavam
melhor do que muita gente
e passavam boa vida,
trabalhando honestamente.

O diretor dos Correios
era o doutor Jaboty;
o fiscal do litoral
era o matreiro Siry,
que tinha como ajudante
o malandro Quaty.

O rato foi nomeado
para chefe aduaneiro,
fazendo muita “moamba”
ganhando muito dinheiro,
com Camundongo ordenança,
vestido de marinheiro.

O Cachorro era cantor,
gostava de serenata,
andava muito cintado,
de colete e de gravata,
passava a noite na rua
mais o Besouro e a Barata.

10. Entre o amor e a espada – José Camelo de Neto Resende

O amor quando se alberga
no peito do rico ou pobre
se torna logo um guerreio
com capacete de cobre
e só obedece a honra
porque a honra é mais nobre

Se o amor é soberano
a honra é sua coroa
portanto um amor sem honra
é como um barco sem proa
é como um rei destronado
no mundo vagando a toa.

Diante da riqueza cultural e educacional presente nos cordéis nordestinos, a utilização destes poemas em sala de aula se mostra como uma estratégia eficaz para despertar o interesse dos alunos pela literatura de cordel, além de promover a valorização da cultura nordestina. Através da leitura e análise destes textos, os estudantes têm a oportunidade de ampliar seu repertório literário, desenvolver habilidades de interpretação e compreender aspectos históricos e sociais da região Nordeste.

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