0s 10 Melhores Poemas de Carlos Drummond de Andrade com Interpretação

0s 10 Melhores Poemas de Carlos Drummond de Andrade com Interpretação

Nossa equipe separou os 10 melhores Poemas de Carlos Drummond de Andrade para você ler ou compartilhar com seus alunos. Se você ama poesia, certamente vai gostar desta publicação que preparamos com muito capricho.

0s 10 Melhores Poemas de Carlos Drummond de Andrade

1. No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Este poema é, sem dúvida, uma das obras mais famosas de Drummond, devido à sua singularidade e temática incomum. Ao abordar os obstáculos que surgem na vida representados por uma pedra que bloqueia seu caminho, a composição recebeu críticas por sua repetição e redundância. No entanto, o poema se tornou um marco na literatura brasileira, demonstrando que a poesia não precisa se limitar aos formatos tradicionais e pode abordar qualquer tema, inclusive uma simples pedra.

2. Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Uma das características que imediatamente chama a atenção do leitor neste poema é o fato do sujeito se autodenominar “Carlos”, o primeiro nome de Drummond. Desde o primeiro verso, ele se revela como alguém marcado por “um anjo torto”, destinado a não se conformar, a ser peculiar e excêntrico. É notório o seu sentimento de desajuste em relação ao restante da sociedade e a solidão que o assombra, por trás de uma aparência de força e resiliência (possui “poucos, raros amigos”).

3. As Sem – Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

O jogo de palavras presente no título do poema, com a assonância entre “sem” e “cem”, está intrinsecamente ligada ao significado da composição. Por mais razões que possamos ter para amar alguém, elas sempre serão insuficientes para justificar esse sentimento. O amor não se baseia na razão ou em explicações lógicas, ele simplesmente acontece, mesmo que o outro não mereça. O sujeito acredita que o amor não exige nada em troca, não precisa ser correspondido (“com amor não se paga”), e não pode ser limitado por um conjunto de regras ou instruções, pois ele existe e tem valor por si só.

4. Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

O poema “Quero” revela a voracidade e intensidade com a qual o eu lírico se depara com a paixão, o amor. A intensidade desse sentimento é retratada de maneira visceral, como uma necessidade que transcende o físico e o emocional. É uma expressão exagerada de amor, um mergulho profundo na vivência intensa desse sentimento, ao ponto de o eu-lírico não conseguir conceber a vida sem a audição, a sensação e a apreciação do amor.

5. José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

O poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, viu a luz do dia pela primeira vez em 1942, dentro da coletânea intitulada Poesias. Essa obra-prima retrata, de forma notável, a solidão e o abandono que assolam o indivíduo na selva urbana, bem como a desesperança que o consome, deixando-o perdido e sem rumo na vastidão da existência.

6. Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Publicado em 1940, na antologia Sentimento do Mundo, este poema foi concebido no final da década de 1930, em meio à turbulência da Segunda Guerra Mundial. A temática social que permeia a obra é inegável, retratando um mundo desigual e repleto de aflições. O protagonista descreve a aspereza de sua existência desprovida de amor, religião, amizades ou mesmo de emoções (“o coração está seco”). Em tempos tão cruéis, marcados pela violência e pela morte, ele se vê obrigado a se tornar quase insensível para suportar tamanho sofrimento. Assim, sua única preocupação é trabalhar e sobreviver, o que inevitavelmente o leva à solidão.

7. Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Essa composição faz uma alusão divertida à dança tradicional das festas juninas brasileiras. Com trajes característicos, os casais dançam em harmonia, guiados por um narrador que propõe brincadeiras. O poeta utiliza essa metáfora para retratar o amor como uma dança em que os pares se alternam e os desejos se desencontram. Todas as personagens mencionadas acabaram isoladas ou mortas, apenas Lili encontrou seu par. Essa situação absurda parece ser uma sátira à dificuldade de encontrar um amor verdadeiro e correspondido.

8. Receita de Ano Novo 

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

O sujeito lírico estabelece um diálogo direto com o leitor, buscando aconselhá-lo e compartilhar sua sabedoria, recomendando que este seja verdadeiramente um ano diferente dos anteriores, um tempo que não seja “mal vivido” e “sem sentido”. Para alcançar essa mudança real, é necessário buscar além da superfície, visando uma transformação que gere um futuro novo e promissor, visto que a transformação deve se manifestar nas pequenas coisas, tendo sua origem no interior de cada indivíduo e em suas atitudes. Para isso, é essencial cuidar de si mesmo, encontrar momentos de relaxamento, compreender-se e evoluir, sem depender de luxo, distrações ou companhias externas.

9. Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Neste poema, o eu lírico inicia sua jornada estabelecendo uma distinção crucial entre “ausência” e “falta”. Com o acúmulo de experiências ao longo da vida, ele compreende que a saudade não é uma mera falta, mas sim uma presença constante em nossas vidas. A ausência se torna um companheiro inseparável, sendo assimilada em nossa memória e se tornando parte integrante de quem somos. Tudo aquilo que perdemos e que nos faz sentir saudade se eterniza em nós, permanecendo conosco para sempre.

10. Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Não se mate

O poema faz uma conexão entre o autor e o sujeito, que reflete e conversa consigo mesmo em busca de orientação e paz interior. Com o coração partido, ele lembra que o amor, assim como a vida, é volátil, passageiro e cheio de incertezas. Ele reconhece que não há como escapar disso, nem mesmo através do suicídio. Para seguir em frente, é preciso acreditar em um final feliz, mesmo que ele nunca chegue. Apesar de toda a desilusão, o poema transmite uma pequena faísca de esperança, que o sujeito lírico tenta cultivar para continuar vivendo.

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