Um círculo de leitura é mais do que um simples encontro entre leitores organizados em círculo. Caracteriza-se como um mergulho individual e compartilhado em um universo literário, que nos permite viver histórias que outros já viveram e degustá-las, dando um sabor a mais às experiências escritas. Como o próprio nome sugere, é uma organização circular que propõe uma vivência incessante de leitura, em que todos têm a oportunidade de ler. Individual porque cada integrante faz a leitura individual de um trecho da obra e, compartilhado, pois no decorrer da leitura são realizadas pausas para partilha das impressões que ficaram, das indagações e reflexões. Portanto, é um misto de sentimentos e emoções, onde diferentes perspectivas se entrelaçam, tecendo uma experiência rica e transformadora em torno da leitura.
Ler, ouvir e compartilhar
O círculo de leitura é pautado no tripé ler-ouvir-compartilhar. São três importantes ações que se complementam e possibilitam a compreensão e reflexão acerca do que foi lido, que transcendem, muitas vezes, as expectativas do grupo. É uma experiência magnífica na qual os participantes externam seus anseios, seus medos e perspectivas. Fomentando a liberdade de expressão e ampliando o repertório cultural, já que o diálogo entre pares proporciona o desenvolvimento de competências socioemocionais, tais como, amabilidade, autogestão e abertura ao novo.
Objetivos do círculo de leitura:
• Aguçar o senso crítico e a capacidade de argumentação, mediante reflexões e questionamentos;
• Promover a empatia e o respeito à diversidade e aprimorar a comunicação interpessoal, por meio do diálogo respeitoso e a escuta ativa;
• Expandir a visão de mundo e o poder de argumentação, através da troca de ideias e perspectivas.
Conhecendo o passo a passo do círculo
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O primeiro passo, que, por sinal, é muito importante, é a escolha do livro ou do texto. A obra pode ser escolhida pelo professor/líder do grupo, ou eleita em conjunto, abrindo espaço para a diversidade de gostos e interesses.
Os encontros acontecem periodicamente, em dias e horários estabelecidos pelo grupo. Vale destacar aqui a importância da escolha do local para a realização do círculo, visto que um ambiente acolhedor deixa os participantes mais à vontade para as partilhas e socializações de experiências vividas. Pode ser na biblioteca da escola, na Igreja, na sala de aula ou de casa, tomando um café aconchegante, ou ainda ao ar livre, à sombra de uma árvore.
Quanto à frequência dos encontros varia de acordo com o ritmo de leitura do grupo, todavia, é interessante que seja semanalmente para não ficar tão distante um encontro do outro e o grupo não perder o fio da meada. Contudo, cabe enfatizar o respeito ao ritmo de leitura, não sendo determinada a quantidade de páginas a ser lida em cada encontro. O progresso da leitura é livre. É necessário que se deixe fluir as emoções e inquietações do grupo. Importante: se o grupo tiver muitos participantes, pode ser subdividido em grupos menores (de no máximo 15 participantes) para facilitar o processo de leitura e escuta.
Como acontece?
A leitura acontece em círculo, no sentido horário ou anti-horário (definido pelo líder do grupo). Normalmente, é ele quem dá os comandos iniciais e instiga os colegas à socialização. No entanto, qualquer participante pode solicitar uma pausa para reflexão no decorrer da leitura.
Cada participante lê um trecho em voz alta e em seu próprio ritmo, enquanto os demais acompanham silenciosamente e atentos para quando o leitor parar, o outro continuar incessantemente até o momento em que algum membro sugere uma pausa para reflexão. A experiência se torna ainda mais profunda com essa troca de ideias e percepções durante as pausas. Se no decorrer da leitura alguém não se sentir bem para ler em voz alta, a leitura prossegue com o colega seguinte. É importante respeitar o momento e a decisão de cada um.
A mediação de um líder ou professor, enriquece o debate ao apresentar diferentes perspectivas sobre o texto, livro, contexto histórico e autor, ao passo que este componente do grupo é responsável por instigar o grupo a colaborar com suas impressões.
No final de cada encontro, é pertinente reservar os últimos dez minutos para uma rodada final de troca de experiências, multiplicidade de interpretações e opiniões, e aprendizado mútuo, promovendo a conexão e o crescimento pessoal.
E quando a obra termina?
Ao final de cada obra lida, acontece o momento das produções livres. É a hora de aterrissar da magnífica viagem feita no mundo literário e expressar, por meio de desenhos, pinturas, cards, poemas ou cartas, as impressões que ficaram. Como expressão da empatia e sentimento de solidariedade, é oportuno escrever uma carta a um amigo indicando a leitura ou um convite para participar do grupo e, acima de tudo, embarcar em uma jornada de autodescoberta e transformação.
Exemplo de vivência do Círculo de Leitura
Escolha do texto: Resiliência e superação
– Organizados em círculos, o líder inicia a leitura da frase de Paulo Freire: “É preciso que a leitura seja um ato de amor. ” E já incita uma reflexão espontânea.
– Em seguida, distribui os textos a todos os participantes e inicia a leitura do texto. Ler um parágrafo e o colega do lado prossegue, e depois, o outro continua lendo até o quarto parágrafo. O líder sugere uma pausa na leitura e instiga a participação do grupo, com os seguintes questionamentos: “O que é ser resiliente? Você se considera uma pessoa resiliente? Conhece alguém resiliente? Quem já viveu uma história de superação? ” O grupo complementa o seu raciocínio, em uma conversa espontânea e prazerosa.
– A leitura continua. Se o próximo colega não se sentir, no momento, à vontade para ler, então segue com o vizinho do lado. Todos acompanham atentamente e, quando este para, o outro continua lendo até o nono parágrafo. Há uma nova pausa, solicitada por um integrante do grupo, que questiona: “Que fatores podem contribuir para uma pessoa vencer as adversidades? ” Outro membro do grupo acrescenta: “O que é uma pessoa obstinada? “ E o líder complementa o raciocínio do grupo relendo o nono parágrafo: “Não existem receitas prontas para a resolução das adversidades…” Após essa socialização, a leitura dar sequência até terminar.
– Chega o momento da rodada final, em que todos são convidados a partilhar suas impressões, pode ser através de uma palavra ou frase que lhe marcou, ou experiências vividas que venham somar ao aprendizado da leitura.
– E se encerra o círculo com a produção de desenhos que simbolizam a resiliência e a superação, além da montagem de cards e escritas de mensagens para postagens nas redes sociais.
Texto: Resiliência e superação
Samantha Scigliano
Quantas vezes, depois da superação de um grande obstáculo, não se vê com certa surpresa e até felicidade que aquilo que parecia impossível foi apenas mais uma experiência vivida com êxito? Essa é a capacidade que pessoas resilientes têm.
Resiliência é um termo que tem origem na Física e denomina a capacidade de um corpo, após deformar-se pela influência de agentes externos, retornar à sua forma inicial. Do campo da Física, o termo passou a ser usado no estudo do comportamento humano, assim, resiliência hoje designa a capacidade que as pessoas têm de, diante de grandes adversidades, buscarem dentro de si um impulso vital que as ajuda a superar difíceis problemas.
Pessoas resilientes enfrentam dificuldades, não desistem de lutar, mesmo que seus problemas sejam muito difíceis como uma violência física ou psicológica, um luto, doenças, algum tipo de trauma, negligência, bullying, ou qualquer forma de abandono ou rejeição, entre muitos outros.
Será tanto mais fácil a superação das adversidades, se alguns fatores puderem contribuir, como a pessoa ter uma boa autoestima; ser otimista; ter facilidade em comunicar-se e falar de si mesma, isso porque expressar seus sentimentos para amigos, familiares ou até terapeutas pode ser um grande apoio no processo de superação.
Ao contrário, pessoas que não possuem tais características pessoais e ambientais encontrarão mais dificuldade, o que não quer dizer que seja impossível a solução de um problema. Ter autocontrole é outro fator importante, pois faz com que se mantenha o foco nas metas a serem atingidas na resolução de uma dificuldade.
É claro que não é de imediato que alguém que sofre tem consciência dessa capacidade, no entanto, para que consiga mudar, o reconhecimento do problema e a aceitação dele serão os primeiros passos a serem tomados.
Daí em diante outros fatores, ainda, serão decisivos para a mudança, como a forma que essa pessoa encara a vida, os valores que traz de sua educação, de sua formação e até de uma religião. Ter fé, coragem, ser uma pessoa obstinada e batalhadora farão dela uma pessoa capaz de transformar situações que trazem dor e sofrimento em superação e aprendizado.
Se é certo que todo mal sofrido e, posteriormente, superado só fortalece, esse é o resultado que as pessoas resilientes obtêm.
Não existem receitas prontas para a resolução das adversidades que cada um enfrenta no decorrer da vida, porém, tudo o que se carrega dentro de si pode ajudar a transformar perdas em ganhos. Experiências difíceis anteriormente vividas também dão às pessoas mais força e melhor conhecimento do que pode dar certo, ou não.
Nesse processo de transformação pode emergir daquele que luta a criatividade com a qual ele poderá elaborar seus sentimentos e descobrir nova capacidade, talvez latente em si, como desenhar, escrever, dançar, compor ou tocar um instrumento, por exemplo.
Outras pessoas, ainda, podem descobrir a iniciativa de fazer um trabalho solidário a se desenvolver como estímulo, e em prol de outras pessoas necessitadas. Aliás, é por isso que, de um problema vivido tem-se a oportunidade de infinitas mudanças na vida, pois é quando se percebe as capacidades até então desconhecidas.
Tudo isso demonstra como o ser humano é maior e mais forte que imagina. E ter consciência disso diante de uma adversidade já é um bom começo para enfrentá-la.
A resiliência, essa capacidade de superação, lembra-nos a Fênix, ave da mitologia grega, que vivia quinhentos anos e, quando morria, entrava em autocombustão e renascia das próprias cinzas. Suas características, como a força e a longa e eterna vida a se transformar, fizerem dela o símbolo do eterno renascimento e renovação espiritual. Entre muitos povos, seu significado é o da perpetuação, da ressurreição e da esperança que nunca tem fim.
E se observarmos bem, veremos que na natureza, da qual fazemos parte, tudo nasce, morre e renasce sempre. E sem fim.
(Fonte: Rita Ribeiro by Obviousmag.org)
Material preparado por Maria Eleí dos Santos, professora de ensino médio do estado do Ceará.
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Respostas de 5
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